Virgílio Trindade: o inesquecível (1)
15 de janeiro de 2024Virgílio Trindade: o inesquecível (1) por José Ozildo dos Santos.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 12/01/2024.
O professor Virgílio Trindade é um nome incorporado à História cultural, social, política e administrativa do município de Patos. Homem de alta e fiel formação intelectual, nele, via-se reunidos o economista, o cronista, o professor universitário, o jornalista talentoso, o desportista, o radialista e o compositor, numa pluralidade de tantos saberes, que me faz lembrar das palavras de um grande mestre da cultura potiguar: “Tão vivo é, no homem, o desejo, osendo da imortalidade, que ele multiplica atitudes altamente significativas”. E Virgílio Trindade, sem dúvidas, já se eternizou.
Inteligência rara, era ainda muito jovem quando publicou seus primeiros artigos, revelando-se um jornalista íntegro, incorruptível e isento de bajulações, qualidades que pautaram sua vida como cidadão consciente de seus deveres perante à sociedade. Vindo de Piancó, à procura de meios e de ambientes para estudar, fincou suas raízes na capital das Espinharas, tornandose um dos mais autênticos patoenses. Amigo do incansável José Gomes Alves, estimulou e auxiliou aquele grande empreendedor a consolidar seu sonho: que era transformar Patos em uma cidade universitária, isto, quando a jornada ainda estava no início e parecia não ser fácil.
Virgílio Trindade é o nome de maior significação na crônica jornalista patoense. Suas qualidades são do conhecimento de toda a “Cidade Morada do Sol”. Comentarista de visão responsável, informava, orientava, opinava, ensinando cidadania diariamente através dos microfones da Rádio Espinharas, numa ação incansável, apesar de suas múltiplas funções.
Jornalista não apenas de artigos literários, mas também políticos e polêmicos, Virgílio Trindade era uma personalidade ímpar. Os artigos por ele publicados, dariam, se reunidos, vários volumes. Mas, o velho mestre não tinha pressa, levava sua vida da mesma forma que andava: devagar. Acreditava ele – e isto ensina a sabedoria – que quem anda também alcança. E, ao seu modo, o “Guerreiro” que a cidade de Patos conheceu, foi tecendo a sua teia de imortalidade.
Espírito incansável, ele se ajustava como mestre universitário e como escritor, jornalista, economista, radialisa, desportista e contabilista, às exigências do mundo moderno, que fazem do homem um multiser. Cronista talentoso, notáveis são as crônicas, publicadas em vários organismos da imprensa patoense e estadual.
Em 2003, depois de muita cobrança de amigos e familiares, reuniu parte de sua produção literária num belíssimo livro, que recebeu o título de Relíquias e que foi bastante elogiado por vários segmentos da imprensa estadual, quando do seu lançamento. O título faz jus ao conteúdo da obra: verdadeiras relíquias. Algumas, são páginas da vida do próprio autor. Outras, verdadeiras declarações de amor à cidade de Patos. A leitura atenciosa do referido livro, deixa qualquer um deslumbrado com a inteligência de seu autor, com suas frases curtas e pensamento lógico.
Num gesto raro, Virgílio Trindade transferia a sua humildade para as páginas que escrevia, demonstrando o elevado estágio de cultura, escondido em seu interior físico. Com um estilo próprio, ele conseguia incorporar memórias, alegrias, informações, sentimentos etc., aos seus escritos, dando uma maior dimensão ao seu verbo, iluminando as páginas do jornalismo e da literatura patoense.
Educado, sereno, cortês, simples e generoso por natureza, no dizer de Walt Whitman, o professor Virgílio Trindade falava muito, escrevia muito, discutia muito e lia muito, consumindo informações por quase toda uma cidade. Numa discussão era invencível. Talento fértil e imaginoso, criticava e elogiava num mesmo tom, mantendo a imparcialidade em suas opiniões.
Sem fanatismo, na política cumpriu os mandatos que o povo patoense lhe outorgou, consciente de que o futuro de uma terra – seja esta a mais simples de todas – se constrói com homem e com ideias. Com esta visão, Virgílio se inseriu no pequeno grupo de homens públicos, credores de estimas e apreços. Vereador e vice-prefeito. Interinamente, esteve à frente dos destinos administrativos da cidade de Patos por duas vezes, correspondendo à confiança que lhe foi depositada.
Espírito culto, nasceu no dia 9 de junho de 1940, em Piancó, sede da histórica Freguesia de Santo Antônio, no Sertão paraibano. Filho do casal José Trindade Monteiro e Cecília Cavalcanti Monteiro, após concluir o Técnico em Contabilidade (1966) estabeleceuse com escritório profissional (hoje, localizado à Rua Felizardo Leite, n° 3, no Centro da cidade de Patos.
Bacharel em Economia, integrou a primeira turma da Faculdade de Ciências Econômicas de Patos (1972). Posteriormente, fez pós-graduação em Teoria Econômica (1982), destacando-se em 1º lugar entre seus colegas de curso. Em 1979, tornou-se professor da Faculdade de Ciências Econômicas de Patos, onde esteve em exercício até ser aposentado. Ali, lecionou várias disciplinas, entre elas, Contabilidade Social, Economia do Setor Público e Desenvolvimento Socioeconômico.
(Conclui na próxima semana)