Semana Santa com fé, cultura e tradição: Patos criou a Procissão dos Homens

Semana Santa com fé, cultura e tradição: Patos criou a Procissão dos Homens

15 de abril de 2022 Off Por funes

Semana Santa com fé, cultura e tradição: Patos criou a Procissão dos Homens por Damião Lucena.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 15/04/2022.

 

Mesmo constituindo uma especificidade da Igreja Católica, a Procissão dos Homens passou a ser um evento cultural, não apenas pela sua origem, mas também pelo fato de ser a única manifestação do tipo, em todo o mundo, constituindo uma de suas principais tradições. O evento masculino acontece anualmente, na madrugada da Sexta-feira Santa, com concentração na noite da quinta, e nasceu na sexta na década do século 20, quando alguns amigos jogavam ping-pong na sede da Ação Católica. Eram eles: Vigolvino Lopes de Sousa, Valdim de Mizael, Eduardo Escarião, Faustino e Fernando Mocinha.

Ao final da competição, quando a rua estava totalmente deserta e a maioria da população entregue ao sono, iam até a Igreja da Conceição, pegavam a imagem do Senhor Morto, que lá permanecia o ano inteiro, e a conduzia até a Catedral de Nossa Senhora da Guia, já que no dia seguinte, no período da tarde, acontecia o cortejo pelas ruas da cidade, além da vigília nas horas que antecediam a referida caminhada.

Com o passar do tempo o número de participantes foi aumentando e em determinado período a multidão já se tornava incontrolável. Em uma dessas ocasiões, a falta de organização veio a provocar um tumulto, motivado pela atitude de alguns populares que se destinavam mais cedo para fazer a transferência, no que eram combatidos pelos pioneiros. Após excessivo diálogo, a situação só foi controlada quando a própria igreja, através do padre Francisco de Assis Sitônio, resolveu interferir, instituindo, oficialmente, o evento.

A Procissão dos Homens que tem início, impreterivelmente, à meia-noite, chegaria ao seu trajeto definitivo com o seguinte percurso: Igreja da Conceição, na Praça Edivaldo Motta, Ruas do Prado, 26 de Julho, Porfírio da Costa, Dezoito do Forte, Irineu Joffily, Leôncio Wanderley, passa pela Praça da Independência, Rua Floriano Peixoto e Avenida Peregrino Filho, com paradas obrigatórias para reflexões baseadas na Via Sacra em confronto com a realidade, culminando em frente à Igreja Matriz, onde o pároco comanda as orações com término por volta das duas horas da madrugada, momento em que é iniciada a retirada das relíquias e disputadas as rosas e galhos que circundam o ataúde, os quais são guardados como símbolo de fé.

Outra peculiaridade da Procissão dos Homens está relacionada ao uso de matracas, cujo barulho objetiva despertar os adeptos da caminhada religiosa. Nas primeiras manifestações oficiais desse evento o motor da luz, que fornecia energia para a cidade de Patos e diariamente deixava de funcionar por volta das 22h, ficava trabalhando até mais tarde, dando tempo, inclusive, para o retorno dos participantes até as suas casas.

Há quem admita a existência de discriminação com relação ao público feminino, provocada pelo clima machista que cerca o evento, tanto que as mulheres são vistas apenas no trajeto, a contemplar o cortejo. Há, inclusive, fatos folclóricos registrados, dentre os quais o que envolveu Antônio Tranca Rua, com Williams Formiga, mais conhecido por Cabeção, que tinha o cabelo comprido e estava inserido na multidão, como um dos participantes do evento e ouviu a seguinte frase: – Oxente! Eu pensava que essa procissão era só de homem.

O fluxo de participantes tem aumentado, consideravelmente, acreditando-se que a cada ano a Procissão dos Homens reúna mais de 5 mil pessoas.