Referências ao Carnaval de Patos
22 de fevereiro de 2023Referências ao Carnaval de Patos por Damião Lucena.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 17/02/2023.
Na primeira metade do século 20 surgiram na cidade de Patos as primeiras manifestações do Reinado de Momo, restrito aos moradores da zona urbana. A laranjinha era uma bola feita de cera e água perfumada, usada na brincadeira preferida dos foliões. A diversão constituía em lançá-la em algum indivíduo distraído para que a criatura tivesse um grande susto. O escritor Nelson Lustosa Cabral foi um dos vendedores desse produto, confeccionado por sua mãe. Outra brincadeira, mais pesada, era levada a efeito no Açudinho da Rua do Mosquito: agarrava-se o indivíduo pelos pés e mãos, fazia-se o balanço tradicional e o jogava contra as águas.
Com o crescimento da cidade vieram as festas dos clubes e o famoso Corso da Rua Grande, que se transformava em um verdadeiro teatro ambulante. Uma de nossas mais tradicionais escolas de samba homenageou, em 1950, o poeta Noel Rosa. O bloco era formado por estudantes e comerciários que interpretavam o sentimento do sambista, sob o batuque dos reco-recos, tamborins e cuícas. A concentração era ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Praça Babilônia, em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O armazém, que sediava o aglomerado inicial, mais tarde deu lugar à residência do saudoso Agripino Cavalcanti de Albuquerque, dono do famoso Cine Eldorado.
Outros blocos seguiram a tradição e entre os mais lembrados está o Prova de Fogo, capitaneado por Zé Romão com seu filho Expedito e integrado por operários das oficinas e borracharias, com trajes de tecido laquê, predominando as cores vermelha e amarela, que durante muitos anos foi presença garantida no Carnaval de Patos. O Sacarrolha era formado pela elite, sob o comando de Carlos Trigueiro, o eterno Rei Momo dos carnavais de Patos. Uma presença marcante na festa era o Ford 29, pertencente à família Torres, que percorria as ruas de Patos, lotado de moças e rapazes, com suas fantasias coloridas, cantando marchas e jogando confetes, serpentinas e lança perfume sobre os foliões. Vale lembrar ainda, o Bloco dos Garotos, um dos principais no final da década de 1950, sob a direção de Tutu. Vai Por Fora, também teve seu período de fama na mesma época e entre os seus coordenadores figurava Inácio Fernandes.
Com relação ao Bloco Sacarrolha, um dos referenciais da década de 1950, os registros são mais amplos. O grupo carnavalesco era formado por cerca de 30 componentes e era acompanhado pelos músicos da Banda Municipal. Saía nos domingos, segundas e terças de carnaval, apartir das 10h e encerrava por voltadas 17h. Entre os membros figuravam: Ernany Sátyro, Francisco Soares, Napoleão Nóbrega, Olavo Nóbrega, Paulo e José Gayoso, Mário eAlberto Trigueiro, Petrônio Lucena,Lindimar Medeiros, Beca Palmeira,Francisco Severiano Maia, Elpídio Portela, Sebastião Sátyro (porta estandarte), Francisco Mascarenhas, Edivaldo Motta, Valdenor Gonçalves, Souto Maior e Bá Araújo.
No início dos anos 1960, o empresário e desportista Zéu Palmeira dava início a uma nova era no Carnaval das Espinharas ao formar o Bloco Popular, apelidado de “Espalha Merda”, pelo fato de acolher nas suas fileiras as pessoas humildes, predominando a torcida do Esporte Clube de Patos, constituída, em sua maioria, por sapateiros, engraxates, chapeados e populares, os quais eram abastecidos por uma ancoreta de aguardente, posta no lombo de um jumento, sob a escolta de Manoel Palmeira, que, além de fabricar a bebida, fazia a distribuição do queima goela, numa quenga de coco coletiva. O baixo cabaré também fazia o seu Carnaval na Boate de Elpídio, com a realização dos bailes de fantasia, onde os figurões da cidade se enrolavam com as mariposas cobertas de pó sob o som estridente da orquestra do próprio bordel.