“Jegueata” ou “motociata”?

“Jegueata” ou “motociata”?

7 de novembro de 2022 Off Por funes

“Jegueata” ou “motociata”? por Renato César Carneiro.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 19/08/2022.

Enquanto escrevo este artigo, já foi declarada pela legislação eleitoral a partida para a cata de votos, pelos candidatos, visando o pleito de outubro deste ano. Do processo eleitoral é a propaganda a fase mais dinâmica, a mais apaixonada e mais viva da eleição. Durante cerca de45 dias e sob as mais diversas formas  impressos, visitas a eleitores, comícios, passeatas, carreatas etc. os candidatos tentam convenceros eleitores de que detêm as melhores qualidades para representá-los junto às diversas instâncias do poder político.

Impossível não recordar, durante este período de eleições, um fato inusitado, ocorrido na minha infância, em Patos, “A Morada do Sol” , localizada no coração da Parahyba. Era uma tarde quente de um domingo, 17 de setembro de 1972. A cidade estava apinhada de repórteres e correspondentes de vários jornais do país. Esperavam, ansiosos, o início de uma “passeata de jegues” em plena campanha eleitoral para prefeito, liderada pelo pároco da catedral.

 

 

Levi Rodrigues de Oliveira ou implesmente Padre Levi, não fora o primeiro sacerdote na Parahyba a enfronhar-se na mundana vida política. Antes dele, outros representantes do clero se dividiram entre a cruz e a espada, a exemplo do Padre Antônio Ayres de Melo, que presidiu a Assembleia Legislativa, ainda no Império; na Primeira República; Monsenhor Walfredo Leal, senador, chefe político e presidente do estado por duas vezes; e o cônego Matias Freire, que presidiu a Assembleia Legislativa e representou a Parahyba na Câmara dos Deputados; e, ainda, Monsenhor Manoel Vieira, que foi deputado federal na década de 1960.

Padre Levi teve uma carreira político-eleitoral curta, mas tão intensa quanto sua forte personalidade. Das quatro eleições que disputou1968, 1972, 1974 e 1978 –, venceu duas. Dificilmente seus contemporâneos lembram os projetos ou as promessas de campanha do padre. Porém, jamais esquecerão as estratégias extravagantes que ele utilizou para conquistar corações e mentes de seus eleitores. Levi Rodrigues inventou o que pôde para atrair a simpatia popular e vencer os pleitos que participou: passeata de bicicletas e de jumentos, abuso de autoridade religiosa, telepatia e até hipnotismo!

Como ninguém, Levi Rodrigues soube captar o “espírito do povo” e de sua época e, junto com o sofrido eleitor sertanejo, “sem peia e sem cabresto”, extravasou sentimentos e emoções durante o período da propaganda eleitoral. Afinal, eleição é, ou não, a “festa da democracia”?

As manifestações populares lideradas pelo vigário, em Patos e em outras cidades do interior paraibano, se não conseguiram melhorar a qualidade da nossa representação, garantiram ao padre um lugar de destaque no folclore político nacional.

Estivesse vivo e resolvesse ser novamente candidato a prefeito de Patos, ao invés de “passeata de jumento”, o padre  que sempre demonstrou ser um homem além de seu tempo –, certamente arrastaria pelas ruas da cidade eleitores em “motociata”, a mais famosa forma de mobilização político-eleitoral.