‘Dois nordestinos do ritmo’
8 de abril de 2022Dois nordestinos do ritmo por Delzymar Dias.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 08/04/2022.
O desenhista patoense Aurélio Filho lança hoje, no Auditório da Fundação Ernani Sátyro, em Patos, no Sertão do estado, o seu mais recente trabalho. A obra intitulada Dois nordestinos do ritmo faz referência a Francisco Ferreira Lima e José Gomes Filho, nomes de batismo de Pinto do Acordeon e Jackson do Pandeiro, duas grandes referências da cultura paraibana e brasileira. Digo isso na primeira parte desse texto porque acho importante demais pontuar essa noção que as vezes tentam imprimir sobre o alcance da obra de um artista.
De uma maneira geral, ambos são apresentados como importantes artistas regionais, porém, vou além disso. Pinto do Acordeon e Jackson “Rei do Ritmo” não representam apenas uma parte do regionalismo musical, eles foram legítimos representantes da música brasileira. O trabalho de Aurélio conta, através de seus traços e desenhos, um pouco da história e da trajetória desses dois grandes artistas brasileiros, sendo figuras essenciais no âmbito da representatividade da nossa música no cenário nacional.
É impossível falar sobre a história da música no Brasil sem citar Jackson do Pandeiro. Ele foi um dos grandes personagens da transição da era do rádio para a TV, quando encantou o país não apenas com a sua voz, mas também com o seu ritmo que contrastava com outros artistas que não estavam acostumados, naquele contexto do início das transmissões na TV, com a linguagem corporal da música. Nesse sentido, cada apresentação de Jackson era uma performance única que envolvia expressões corporais rítmicas absurdamente originais. Com a música ‘Chiclete com Banana’, ele firma um compromisso com a cultura nacional ao mostrar sua preocupação com a difusão dos ritmos estrangeiros nas rádios na década de 1950.
Já o sertanejo Pinto do Acordeon conseguiu destaque em meio a dezenas de grandes talentos musicais que despontaram no forró raiz a partir da década de 1970. Conviveu e buscou seu espaço com o maior deles, o grande Luiz Gonzaga, que reconhecia no instrumentista, cantor e compositor um talento nato para a música, chegando a convidá-lo para cantar em Exu, cidade Pernambucana que era sua cidade natal.
Participou de um dos festivais de música mais importantes do mundo, o Festival de Montreux, na Suíça, foi destaque no Programa do Jô, da Rede Globo, sendo entrevistado por um dos maiores comunicadores brasileiros, Jô Soares e teve uma de suas canções incluída na trilha sonora de Tieta do Agreste, uma das novelas de maior sucesso na história da teledramaturgia brasileira. A adaptação do romance de Jorge Amado para a TV foi uma oportunidade que mostrou o talento de Pinto do Acordeon para o Brasil. A música ‘Neném Mulher (Paixão de Beata)’, encantou o país ao embalar histórias na fictícia cidade de Santana do Agreste. Além de Pinto, a trilha sonora dessa novela contou com nomes como Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Emílio Santiago, Tim Maia, Luiz Caldas, José Augusto, Fagner, Maria Bethânia, entre outros.
O desenhista Aurélio Filho acerta mais uma vez ao produzir um material que certamente irá circular em diversos espaços de produção de conhecimento, gerando boas discussões e puxando um debate interessante sobre a importância da presença dos nossos artistas no cenário cultural brasileiro. Aurélio vai longe, assim como a sua arte que já ultrapassa os limites da capital do Sertão.