Dois mil e vinte e dois
31 de dezembro de 2022Dois mil e vinte e dois por Delzymar Dias.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 30/12/2022.
Quantos anos vivemos em 2022? A impressão é de que, com a retomada da normalidade baseada nos encontros, tivemos a oportunidade de vivenciar novamente coisas que eram do cotidiano coletivo e que foram se perdendo por conta da suspensão parcial das atividades presenciais em decorrência da pandemia. Os eventos foram retomados, osartistas voltaram a ter contato presencial com o público e, superada em parte a tragédia provocada pela Covid-19,retomamos o convívio social.
Os jornais voltaram a dedicar espaços maiores para falar sobre a trajetória das personalidades que morreram e voltamos a participar dos momentos fúnebres de despedida. Até a nossa percepção sobre a notícia morte mudou, já que voltamos ao impacto da perda inesperada e a reflexão e contemplação do legado de quem partiu. A ideia desse texto, o último do ano nesse espaço, não é retomar o tradicionalismo do obituário em forma de retrospectiva, é mostrar que perdemos, mas também ganhamos em 2022.
A cultura local perdeu Derréis, músico que foi escolhido pelo povo de Patos como um dos seus grandes artistas populares. Essa percepção é clara pelas centenas de convites e homenagens oferecidas em vida e que hoje, após a sua morte, continua com vários muros grafitados com sua imagem, filmes que continuam sendo vistos através das plataformas e outras produções culturais que vêm sendo planejadas para falar sobre a sua atuação no cenário cultural da capital do sertão e suas andanças pelo Brasil.
O país sentiu a morte de Gal Costa. Perdemos uma das cantoras mais importantes da história da música popular brasileira, mas também ganhamos com a ampliação do seu legado entre os mais jovens que darão continuidade a força da sua música. Apesar da idade avançada, Gal vinha realizando grandes apresentações, com ingressos esgotados para os próximos shows e uma presença cada vez maior no público jovem. O mesmo se aplica a Elza Soares, outra gigante da nossa música que morreu em 2022. O disco A mulher do fim do mundo (2015) marca um retorno avassalador da cantora, recebendo dezenas de avaliações positivas no Brasil e no exterior, fazendo com que ela ganhasse seu primeiro Grammy Latino como Melhor Álbum e lotasse festivais. Apesar de o chamado sertanejo universitário dominar a preferência dessa faixa, a juventude vem redescobrindo o impacto e a importância da Música Popular Brasileira através da história e também das vivências que são confrontadas a partir das pautas atemporais que são apresentadas no conjuntoda obra dessas mulheres que marcaram a nossa história musical.
Na literatura, perdemos Lygia Fagundes Telles e, mais recentemente, Nélida Piñon, primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Esse fato precisa ser exaltado, já que, em 125 anos, a ABL só foi presidida por mulheres em duas oportunidades.
Perdemos Jô Soares, escritor, ator, humorista, apresentador e teatrólogo, um dos grandes nomes da cultural nacional e que fazia questão de exaltar e brincar com suas raízes familiares aqui da Paraíba. Quem teve a oportunidade de ler a sua Autobiografia Desautorizada, percebe as dezenas de citações sobre a Paraíba através das histórias contadas e vivenciadas a partir dessas relações. Seu pai, Orlando Heitor Soares, era paraibano. Em sua obra, Jô cita José Américo de Almeida, Epitácio Pessoa, Assis Chateaubriand, Ariano Suassuna, Augusto dos Anjos e outros personagens da nossa cultura.
Como disse no início no texto, esse ano não ficará marcado apenas pelas perdas irreparáveis. Vivenciamos momentos culturais históricos em nosso estado, a exemplo da abertura nacional da turnê Que tal um Samba?, de Chico Buarque, que escolheu a Paraíba para a primeira apresentação que lotou o Teatro A Pedra do Reino com direito a exaltação ao mestre paraibano Sivuca.
No âmbito da gestão, o Governo do Estado da Paraíba lançou o Plano Estadual de Cultura, instrumento essencial não apenas para implementação, mas para o planejamento de políticas públicas estruturadas a média e longo prazo, que, aliado a recriação do Ministério da Cultura pelo novo governo federal e a garantia da implementação das leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo, traz perspectivas de esperança para o setor em 2023.