É patoense o autor do primeiro cordel publicado no Brasil

27 de setembro de 2024 Off Por Funes Patos

É patoense o autor do primeiro cordel publicado no Brasil Por José Ozildo dos Santos.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 27/09/2024.

 

A literatura de cordel está relacionada ao romanceiro popular. Originária do cancioneiro da Península Ibérica, no Nordeste brasileiro ela encontrou um ambiente sociocultural propício, rapidamente difundiu-se e tomou forma própria. E ao patoense Silvino Pirauá de Lima cabe a primazia de ter sido o autor do primeiro folheto de cordel publicado no Brasil. Autor de História do Capitão do Navio e Peleja da Alma, ele nasceu na Vila de Patos, em idos de 1848. Filho de agricultores, teve uma infância pobre e distante da escola. No entanto, possuidor de uma grande vivacidade, cedo aprendeu a versejar.

Tocador de viola admirável e repentista exímio, considerado o mais notável de todos os discípulos do famoso repentista Francisco Romano, da Serra do Teixeira, de quem era grande amigo, Silvino Pirauá foi, depois de seu mestre, o maior cantador do Nordeste. Venceu inúmeros cantadores e jamais foi vencido. Glosador e poeta popular, viveu a
primeira fase de sua vida cantando pelas feiras livres do Sertão paraibano, tendo ainda sido o introdutor da regra da “deixa”, que obriga o adversário a compor rimando com o último verso deixado pelo contendor.

Poeta andarilho, Silvino Pirauá vivia exclusivamente de sua arte e rimava para arranjar o pão. Em companhia de seu discípulo Josué Romano, anualmente percorria os estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, cantando nas feiras do interior. Em 1898, fugindo dos efeitos maléficos de uma grande estiagem, que assolava o Sertão
paraibano, deixou definitivamente a Vila de Patos e transferiu-se para Recife, onde fixou residência num bairro pobre e passou a exercer seu ofício, cantando nas feiras e praças da capital pernambucana. Foi nessa época, que levado por dificuldades econômicas, iniciou a publicação de seus versos, tornando-se o percussor do romanceiro popular.

Um dos mais tristes fatos da vida desse notável poeta-cantador foi narrado por Sebastião Nunes Batista, em sua Antologia da Literatura de Cordel. Homem pobre — a exemplo da maioria dos cantadores nordestinos —, falecendo sua esposa, “valeu-se da ‘cantoria’ para custear-lhe o enterro”.

Foi na capital pernambucana que Silvino Pirauá consagrou-se como poeta e cantador de viola. E, formando parceria com José Galdino da Silva Duda e, posteriormente, com o cantador pernambucano Antônio Batista Guedes (seu discípulo), percorreu as mais importantes feiras do interior nordestino, cantando e vendendo folhetos, difundindo a literatura de cordel.

Possuidor de uma memória prodigiosa, Silvino Pirauá tinha conhecimentos rudimentares de geografia, história universal e sagrada. Cognado por seus colegas como “o poeta enciclopédico”, ele tem “descrições” célebres sobre a Paraíba e o Amazonas. Em meados de 1913, encontrava-se cantando em Bezerros, no interior de Pernambuco, quando
contraiu varíola e prematuramente faleceu, aos 65 anos de idade. Escreveu e publicou inúmeros folhetos, entre os quais, os mais conhecidos são: Verdadeira Peleja de Francisco Romano e Inácio da Catingueira, A Vingança do Sultão, As Três Moças que Quiseram Casar com um Só Moço, História do Capitão do Navio, História de Zezinho e Mariquinha, Desafio de Zé Duda com Silvino Pirauá, Descrição da Paraíba, E Tudo Vem a Ser Nada, Descrição do Amazonas, História de Crispim e Raimundo e Peleja da Alma.

Os romances de Pirauá, que, ao longo dos tempos, vinha sendo “reeditados e consumidos pelo homem do campo”, hoje, juntamente com a obra de Leandro Gomes de Barros e outros expoentes da literatura de cordel, a exemplo de Patativa do Assaré, são objetos de estudos nos meios universitários. Embora não lhe caiba a maior glória de nosso romanceiro popular, Silvino Pirauá é lembrado na história de nossa literatura de cordel, por seu pioneirismo. Poeta original, em sua produção, abordou os mais variados temas, dando uma grande contribuição à literatura popular nordestina. Lamentavelmente, é um nome ignorado na cidade que lhe serviu como berço.