Desejo de status

29 de julho de 2024 Off Por Funes Patos

Desejo de status Por Gustavo Firmino

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 26/07/2024.

 

O desejo pelo status, por uma posição de valor diante do mundo, parte da percepção que nós indivíduos humanos temos da ascensão do outro enquanto não nos percebemos valorizados, ainda que acreditemos merecer uma posição de destaque diante da sociedade na qual estamos inseridos. Essa posição de destaque é representada em diversas maneiras nas quais existe uma exaltação das qualidades do outro, fazendo com que o indivíduo desperte uma necessidade de ocupar, senão aquele espaço, mas sim um lugar que lhe seja de destaque por julgar também ser merecedor daquele mérito.

Diante desta maneira de interpretar a sociedade que nos rodeia, partimos do princípio de que nosso valor é percebido a partir da validação do outro, seja pela aprovação ou rejeição. Deste modo, valores materiais, intelectuais, morais e
pessoas incidem de acordo com a forma como o outro enxerga essa validação ou rejeição de determinado sujeito, ou seja, há um respeito por aquilo que agrega valo, que enaltece, que “traz vantagem” consigo, por aquele item desejável que agrega valor a determinado sujeito.

Esse desejo pela posição de status dentro da sociedade tem suas raízes no afeto recebido pelo sujeito. Mais afeto tende a ser despendido aos que ocupam posições sociais mais elevadas, enquanto menos afeto tende a ser despendido ao cidadão comum, pessoas que não ocupam grandes posições de relevância na sociedade. O indivíduo humano que deseja sua posição de status depende constantemente da validação de terceiros — especialmente dos terceiros “certos” — para entender e construir seu espaço de status dentro da sociedade. O indivíduo humano é carente de afeto e frágil diante do desprezo. O lugar que ocupamos no mundo nos traz aflição e sofrimento pois sempre desejamos um lugar de prestígio, ainda que não sejamos realmente dignos de tal.

Dessa forma, o conceito de status é diretamente relacionado ao conceito de aparência. O status é atributo de quem detém prestígio social em algum nível, e que faz questão de mostrá-lo. Ainda que um indivíduo desenvolva habilidades desejáveis, é o “mostrar” que vai ser diferencial sobre a posição que este indivíduo ocupa em sociedade. É essa demonstração de status dentro da sociedade que faz com que os outros indivíduos validem a posição que um sujeito assume na sociedade, e isso lhe proporciona privilégios sociais notáveis, como a diferenciação no tratamento que se recebe das pessoas, na diferenciação de um atendimento em determinados ambientes, no acesso a determinadas oportunidades de crescimento… Afinal, como diz o ditado popular: “Quem não é visto, não é lembrado.

E ainda diante dessa vil característica social, destaca-se a figura do esnobe, o sujeito que navega à mercê da opinião coletiva do círculo social ao qual ele quer pertencer integralmente, se tal qual como um pirata, se aproveita das turvas águas da opinião alheia para criar suas riquezas sociais ao bel prazer de seus interesses. Um grande exemplo dessa condição de esnobe pode ser encontrado nas colunas sociais, que são seções de jornais (e hoje são páginas de redes sociais) em que se destaca a presença, ações e fatos associados a pessoas de “patamar elevado” de uma sociedade. É o boletim diário da vida dos nobres e dos aristocratas. E tal boletim tem o poder de moldar os costumes da sociedade, ainda que não seja fiel representação do que a sociedade realmente é.

Essas pessoas perpetuam sua maneira de pensar através das gerações de maneira a impedir a reflexão de que a ideia de superioridade e inferioridade de costumes e supervalorização de status social é errônea e desmedida, usando para isso condições emocionais que não permitem aos menos favorecidos a reflexão a respeito dessas ideias. A pessoa que vê isso acha que a vida é apenas isso — uma eterna exibição de luxo, de forma esnobe. Uma vez estabelecida essa condição, passa-se a considerar não o ser humano e sua grandeza geral, mas sim o objeto que representa um símbolo de status social e eventualmente a pessoa associada a esse objeto. O indivíduo que quer ocupar um status social elevado se aproxima dos mais bem quistos dentro da sociedade e, para fins de bajulação pretenciosa, até fingem se importar com o indivíduo humano por trás da máscara de status elevado que veste. O esnobe é um camaleão, que se camufla daquilo que quer ser. É o mais bem experiente mestre dos disfarces.