Avaliação, criatividade e educação no Brasil
8 de julho de 2024Avaliação, criatividade e educação no Brasil Por Professor Delzymar Dias
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 01/07/2024.
Fui dar um abraço no amigo José Pacheco esses dias. Ele veio à Paraíba participar de um evento em Campina Grande e sempre que ele está por aqui, faço questão de conversar um pouco e renovar minhas esperanças na educação e na sociedade. Nosso encontro aconteceu na semana em que foram divulgados os dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que é uma avaliação coordenada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que acontece a cada três anos e avalia o desempenho de estudantes de 15 anos em 56 países. Sempre defendi que o Pisa não deve ser a nossa principal referência, é uma avaliação que mostra pouco sobre a educação como um todo, evidenciando o desempenho dos alunos em áreas específicas como matemática, leitura e ciências.
Nosso problema é bem mais complexo e os dados apresentados no exame são usados de forma errada, reforçando os princípios que nos levaram ao abismo. Como disse anteriormente, o Pisa não avalia a educação como um todo e os dados são tão limitados no tocante a aplicação de políticas públicas mais consistentes, que eles resolveram mudar na última edição, incluindo, pela primeira vez na avaliação, um teste para “medir” o pensamento criativo dos alunos a partir da resolução de problemas, facilidade de comunicação e a capacidade de contar histórias. Minha crítica ao Pisa como único instrumento de avaliação vem, em boa parte, de uma tentativa de padronização que se torna inútil ao comparar países que vivem realidades históricas, políticas e sociais totalmente distintas. Essa distorção pedagógica é tão óbvia, que o exame tenta “medir a capacidade criativa” dos alunos usando como meio apenas uma prova escrita. Isso é apenas um dos problemas encontrados nas avaliações formais.
Estamos na contramão e eu vou mostrar o quão grave é a nossa realidade. O Pisa mostrou que o desempenho dos estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos na área de leitura, foi muito abaixo do que seria aceitável. Como vamos resolver isso? São Paulo, o estado mais rico do Brasil, resolveu que iria acabar com os livros didáticos impressos, sem nenhum tipo de diálogo ou discussão, só recuando da medida após uma ampla pressão de educadores e especialistas. Perceberam como estamos lendo de forma errada esses números? O nosso dado concreto sobre esse tema não deveria ser o Pisa, mas o nosso censo escolar, que indicou que mais da metade dos estudantes brasileiros do Ensino Fundamental não possuem acesso a biblioteca na escola.
Esta discussão sobre avaliações não é nova. O educador Lauro de Oliveira Lima, em Escola no Futuro, publicado há mais de 50 anos, já dizia que não são as provas parciais, não são os testes e as arguições que medem, realmente, o valor da atividade didática. O problema é que a mentalidade que prevalece na escola atual é a padronização dos processos educativos, o que vai de encontro a qualquer prática criativa. A aplicação de provas, sejam elas no âmbito das avaliações internas ou externas, contribuem para esse engessamento. A declaração de Salamanca diz que toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas, sendo impossível padronizar habilidades e competências a partir de uma lógica industrial e produtiva, como temos hoje.
Precisamos aprofundar as discussões para além do Pisa. Temas como criatividade e inovação nunca serão aplicados de uma forma efetiva enquanto o foco do nosso ensino estiver vinculado a uma estrutura arcaica, baseado no modelo prussiano.