Escrita sertaneja
19 de agosto de 2024Escrita sertaneja
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 16/08/2024.
Penso que os poetas são agraciados com uma particular centelha divina. Eles nos tiram da realidade, por vezes, até nos insere nela, de modo encantador. Agora, quando descubro sua semelhança com as crianças resta dúvida alguma disso.
Quando eu era criança, a realidade não me importava. De um tomate, fazia carne, feijão, arroz, o almoço todo de um lar que construí com móveis em miniatura; de uma bacia transbordante, fazia minha piscina, para as minhas bonecas, para mim, amigos, familiares. E, o melhor de tudo isso, eram os diálogos que eu construía, que davam vida àqueles bonequinhos, tão distintos, tão autônomos, tão reais. Medo? O que era esse sentimento que não conseguia me limitar? Eu conseguia criá-lo, para que minha imaginação me fizesse sentir o temor da Cuca, aquele jacaré perverso do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Era bom sentir medo! Era bom criá-lo.
Os pés no chão, descalços, enfrentavam o calor ardente do Sertão. Jogar bola, andar de bicicleta, correr na rua, entre uma casa e outra, eram aventuras cotidianas, para além de necessárias, porque eu queria estar sempre em livre movimento. Se na cidade, se no sítio, o que me importava era a vivência das coisas que eu criava. Para mim, elas eram tão mais reais e interessantes que a vida, que o dia se constituía pequeno, diante de tantas oportunidades de criação. Minha mente e meu corpo não paravam, detestavam cadeiras, redes, camas. O céu, visto da caminhonete C10 do meu avô, à noite, todo estrelado, era lindo, era gigante, era divino. Não me importava o que os professores me ensinaram sobre os astros celestiais, sua construção, possíveis origens. O que fazia sentido para mim era a dimensão gigante, suntuosa, daquele pálio luminoso, de um universo que me encantava, especialmente, por sua beleza e grandeza imensuráveis.
Nessa lógica infantil do melhor viver, onde estavam os poetas? Lá, na minha infância, a poeta era eu. Eu inventei minha própria história, fiz meu próprio alimento, banhei-me na melhor piscina, tive a melhor família, os melhores amigos: amores! Vi o céu sem pés firmados na realidade vulgar, tão característica dos seres comuns, por isso tão sem graça, (des)graçada. E, assim, cresci pensando que vale a pena ver com os olhos da imaginação e pisar onde nenhum pé havia pisado.
Toda criança é poeta! Já fui criança! Quanta saudade!…
(“Já fui poeta”, Klítia Cimene)
Todos nós temos sonhos. No âmago do nosso ser, cada um de nós carrega a esperança de que possuímos um dom único, algo especial que nos distingue e nos capacita a fazer a diferença no mundo. Essa crença não é apenas um desejo passageiro, mas uma convicção profunda que reside em nossa alma.
Queremos acreditar que podemos ajudar uns aos outros de maneiras especiais. Que nossas ações, por menores que pareçam, têm o poder de iluminar o caminho de alguém, de trazer conforto, alegria e esperança. Cada gesto de bondade, cada palavra de encorajamento, é uma prova de que temos a capacidade de transformar vidas.
Ao nos unirmos em torno desse ideal, podemos transformar o mundo em um lugar melhor. Pequenas ações se somam e, juntas, criam um impacto significativo. Nossa crença na nossa capacidade de fazer a diferença é o que nos impulsiona a seguir em frente, a lutar por um mundo mais justo, inclusivo e amoroso.
Assim, não subestimemos o poder dos nossos sonhos e do nosso desejo de acreditar. Pois é através deles que encontramos a força para superar desafios, para inspirar mudanças e para deixar um legado de bondade e transformação.
(“Todos sonhamos”, Natanael Sousa)