A estação ferroviária
15 de abril de 2024A estação ferroviária Por Latiffa Oliveira.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 05/04/2024.
Hoje eu quero sair da monotonia e escrever uma estória, não será com “H” porque é invenção minha.
Era uma manhã de muito sol, creio que eram umas 10 horas quando ouvi a buzina do trem tocar. Como era lindo! Aquele trem com mulheres e homens bem vestidos, acredito que seriam filhos de fazendeiros vindo curtir a tão esperada Festa do Rosário. O ano era o de 1960 e eu tinha apenas 10 anos, contudo as imagens ainda são nítidas apesar da minha velhice.
Tinha uma tia chamada Etelvina, negra do cabelo cacheado, tinha corpo bonito, porém, um pouco maltratada. E sempre a acompanhava para vender café e água. Neste dia, parou um homem muito bem aperfeiçoado; tinha cabelos grisalhos, alto, branco e com vestes novas. E fiquei a indagar. Será
um padre? Um comerciante? Ou alguém da capital? Em meio a essas dúvidas, ele olhou para mim e pediu um copo com água. Suas mãos eram finas e em seu dedo tinha um roliço anel de ouro que deveria valer uns 500 cruzeiros.Após saciar sua sede, ele pagou o que devera e me olhou com um sorriso encantador! E logo observei que tinha alguns dentes de ouro, fiquei perplexa! Será esse homem das Minas Gerais?! E fiquei o tempo todo a questionar.
Na verdade, nunca tinha visto um senhor daquele porte, pele de qualidade, muito rico e bem educado, porque os patrões de meus pais eram ricos, mas nem tanto assim. Ao meio-dia chegou uma mulher de cabelos negros lisos, pele negra, dentes bem brancos e um pouco mal vestida. Ele se aproximou dela e começaram a conversar; e pensei que o senhor estava esperando por alguém importante, mas era uma negrinha como eu. Não deveria ser amante porque era bem jovem, tinha feições de 20 anos e ele uns 50. Fiquei observando tudo, porém, minha tia queria almoçar, disse para ela ir e, quando voltasse, trouxesse meu alimento. E assim foi!
Eles falavam baixinho, aí afastei a banca para perto deles. Ofereci um café e ele muito simpático, comprou. A negrinha era até bonita, parecia com ele, deveria ser uma filha bastada que veio antes do casamento. Mas, não consegui descobrir nada e para falar a verdade, sou muito curiosa! A jovem saiu, ele abraçou-a de modo fraterno, parecia que passaria anos sem a ver.
Após isso, chegou um carro para buscá-lo; antes de sair ele olhou no fundo dos meus olhos e me deu um anel de ouro que estava no seu bolso, disse que tinha muito onde morava, que só veio a Pombal para pagar uma promessa a Nossa Senhora do Rosário. E aquela negra, o queseria dele? Fiquei pensando nisso o resto do dia…
Latiffa Oliveira é o pseudônimo da escritora pombalense Aline Silva.