“O Gigantão do Prado”
13 de fevereiro de 2023“O Gigantão do Prado” por Misael Nóbrega de Sousa.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 10/02/2023.
Certa vez, quando trabalhava para o Jornal da Paraíba, fiz uma reportagem sobre o Cinema São Francisco. Era, talvez, a primeira de inúmeras especulações sobre o seu fechamento. Muitas foram as argumentações apresentadas, tais como: violência; falta de bons títulos; e principalmente, o surgimento dos vídeos cassetes, com filmes em profusão nas locadoras, para justificar o desmedido. À época, a matéria acabou tendo relativo destaque.
Atenho-me a foto tirada com a velha Zenit de guerra. O ângulo mostrava, num primeiro plano, o cadeado cerrando o portão principal; e, com o obturador e o diafragma, ajustados, acertadamente, um efeito de profundidade flagrava a expressão do ator Tom Hanks – com o olhar de perplexidade – no cartaz do filme À Espera de um milagre, por acaso ao fundo.
Aquilo acabou sendo a passagem mais intrigante da história em que publicara como testemunha ocular, e o mais difícil, não deixar que o texto fosse profundamente contaminado pela angústia que estava sentindo naquele momento. Porém, nada comparado à notícia disposta no periódico, igual profecia; e que, indubitavelmente, viria a se confirmar.
As novas salas de projeção, hoje em dia, embora mais confortáveis, em nada se parecem com a grandiloquência de antigamente. Os cinemas eram catedrais de Áugures. Verdadeiros santuários de entretenimento e ópio. Quem sabe, não fosse pela evocação do deífico. Estruturas de concreto fortalecidas pelo tecido espiritual das gerações e, portanto, já santificadas, por assim dizer.
Voltando àquele lugar, confesso, tive um profundo aborrecimento, em ver que o edifício, sem mais nenhum cartaz convidativo, havia sido, totalmente, derribado. Era, enfim, a certeza de que uma época se perdera… Uma pessoa sem mais nada para voltar. Incalculáveis foram as vezes em que assisti aos filmes no afamado “Gigantão doPrado”. Porém, nada mais será mencionado, mesmo feito galanteria.
Já dissera, portanto, que houve uma morte viva: uma deslembrança por meio da forma que tenho para protestar e não uma rendição. Era pretensão demasiada acreditar que aquelas cadeiras do Cine São Francisco ficassem eternamente cativas em suas fileiras; e o quadrilátero um próprio espaço de mim.
No entanto, deixo o recinto impregnado de meus suores, como pagamento pelos seus favores: um achaque que agora sinto no mais íntimo do meu viver-adolescente. O sol despenca, miseravelmente, no final da rua do Prado, em Patos, no Sertão da Paraíba, e doura a testeira do prédio-casa de Almir, que ali estivera por inúmeras películas e que fora também, o abrigo de cinéfilos de todos os títulos. Amém.