As memórias do rádio a partir dos memorialistas locais em Pombal (PB)

As memórias do rádio a partir dos memorialistas locais em Pombal (PB)

3 de junho de 2022 Off Por funes

As memórias do rádio a partir dos memorialistas locais em Pombal (PB) por  Francimário Sales Rufino.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 03/06/2022.

 

Em linhas gerais, memorialistas podem ser entendidos por um grupo de indivíduos afeitos à história e à atividade da escrita e que se propõem a escrever geralmente sobre a história local, com temas relacionados aos grandes fatos acontecidos na cidade, alternando conhecimento histórico e as experiências vivenciadas, estabelecendo uma ligação entre passado e o presente. Dessa maneira, ao lançarmos um olhar sobre a produção memorialista, assim como a produção historiográfica, acreditamos que, ao narrar suas memórias, esses memorialistas apresentam a introdução do rádio em Pombal não da forma como o processo se deu, mas do modo como eles pensam, assim revelando a sua importância para a cidade.

Em Pombal, no que se refere à produção historiográfica acerca da história do rádio, a documentação ainda é bastante limitada, embora exista um caminho que possa ser percorrido. Neste sentido, destacamos a dificuldade de discutir e conseguir estabelecer um diálogo entre os fatos apresentados sem o apoio da historiografia acadêmica, no sentido de que o surgimento do rádio local tem seus reflexos na história do rádio em âmbito nacional.

Os principais escritos sobre o rádio local estão publicados na obra Histórias do Rádio em Pombal (2014), fonte primária para quem quer estudar o tema. Esse livro reúne uma coletânea de narrativas em que o autor organiza e divide as narrativas em três tópicos. A primeira parte está relacionada ao período das rádios difusoras, já o segundo momento apresenta o período em que as emissoras de rádios AM e FM começam a dominar a comunicação na cidade, e, por fim um conjunto de homenagens a grandes nomes do rádio pombalense. O autor, Clemildo Brunet de Sá, busca abraçar um longo período da história do rádio na cidade que se estende desde a década de 1940, indo até os dias atuais, narrando fatos acerca da trajetória do rádio numa escrita tradicional pouco problematizada.

É possível perceber que Clemildo Brunet de Sá tem estreita relação com a participação do rádio, não somente na cidade de Pombal, mas também, na Paraíba, pois trabalhou na cidade de Cajazeiras e também em outros veículos de comunicação, atuando como repórter, locutor, comentarista, redator e colunista, tendo a sua história radiofônica iniciada no ano de 1961, ainda nas conhecidas difusoras de rádio. Clemildo Brunet de Sá criou a sua própria emissora, intitulada de A Voz da Cidade, e hoje se encontra aposentado dos microfones, dedicando o seu tempo a publicar textos acerca da história do rádio e da cultura pombalense em seu blog. De acordo com o próprio Clemildo, a maior relevância da sua obra se configura na possibilidade de outras gerações ter acesso à história da comunicação, do rádio e principalmente da cidade.

Considerando que o rádio surge em 1942, entendemos que os anos seguintes vão representar um período onde esse meio de comunicação vai ganhar cada vez mais espaço e notoriedade, exercendo forte influência na dinâmica social da cidade através da música, entretenimento e informação a partir de programas comandados por importantes radialistas, principalmente entre a década de 1950 a 1960. O memorialista Maciel Gonzaga afirma que: “Nesse período grandes locutores se destacaram, entre eles, Jairo Mota, Ivânio, João Rapadura, Anchieta de Lourenço José, Raminho de Antônio Bezerra, José Geraldo, Maria Alice, Lucrecia Formiga e Jurandir Urtiga”.

Outro memorialista importante, Ignácio Tavares, em narrativa intitulada Acorda Pombal 145, descreve sobre o panorama político em Pombal e região, afirmando que: “No início dos anos 1950, o cenário político de Pombal sofreu algumas alterações no quadro das suas lideranças, devido à presença de novos atores, além dos já conhecidos”. Neste sentido, podemos perceber que o autor não busca somente enfatizar aspectos políticos relacionados à conjuntura política partidária, expõe também tramas políticas e diálogos de natureza diversa.

Dado o exposto, o rádio surge em Pombal como signo ligado a esse conjunto de transformações decorrentes desde o século 19. A radiodifusão na cidade emerge tardiamente em relação ao processo radiofônico do âmbito nacional, aproximadamente duas décadas após a primeira transmissão oficial realizada em território brasileiro.