Polion e os ‘Versos de Ninguém’
23 de maio de 2022Polion e os “Versos de Ninguém ” por José Romildo de Sousa.
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 20/05/2022.
Em 1979, Polion Carneiro publicou seu livro Versos de Ninguém, que foi muito prestigiado quando do seu lançamento no Patos Tênis Clube. Para se ter uma ideia da importância dessa obra, o seu prefácio é do grande Orlando Tejo, que o encerrou profetizando: “De uma coisa estou certo: com esta poesia que tanto cheira a cachaça como a terra molhada do Sertão das Espinharas, Polion passa a ocupar o lugar que lhe estava reservado na galeria dos verdadeiros poetas paraibanos. Porque esta poesia, gerada de pecados e mistérios, foi parida pelo ventre da noite para ser amante do sol”.
E complementa ainda sobre o livro Raimundo Yásbeck Asfóra: “É, verdadeiramente um poeta, o autor de Versos de Ninguém. Um poeta ainda Agreste, literalmente rústico, mas de uma impressionante intuição dos mistérios da grande arte. Eu me esqueceria dos primeiros versos e me fixaria, em livro, com os poemas de sátira política que conferem uma vertente nova e surpreendente ao seu volume. Nesse final, Polion Carneiro pode dizer que não pediu emprestado o seu processo criador. Tem o perfil das coisas próprias e força de permanência”.
No ano de 2014, na cidade de Patos, no evento que registrou os 15 anos da circulação no Brasil do jornal A Verdade, os organizadores decidiram homenagear o ex-preso político, ex-vereador pela cidade de Patos, poeta, advogado, líder sindical e tribuno popular Polion Carneiro (in memoriam).
No público presente ao evento, destaque para a viúva de Polion Carneiro, a senhora Marúzia de Araújo, e sua filha Pollyana Carla. Também se fez presente o irmão de Polion, Severino Canuto Filho (Lodim), além de sobrinhos e netos. Os ex-vereadores José Augusto Longo e Adão Eulâmpio, contemporâneos de Polion Carneiro, compareceram à solenidade.
Bastante emocionada na solenidade onde seu tio era o homenageado, a professora Klítia Cimene, traçou a interação entre poeta, livro e leitores: “No livro, Polion Carneiro fez perceber a dimensão da alma poética do líder político compenetrado na sensibilidade humana em uma obra única e imortal”.
Versos de Ninguém mostra a magnitude do autor. Seu único livro confunde-se com sua vida de tal modo que muitos poemas mais parecem uma confissão. Ao mesmo tempo, sua obra faz de cada leitor um intérprete de si mesmo quando entra em contato com a poesia de Versos de Ninguém. O autor de Versos de Ninguém, Polion Carneiro de Oliveira, nasceu na cidade de Patos, estado da Paraíba, em 26 de fevereiro de 1944.
Estudou inicialmente no Coriolano de Medeiros, ingressando em seguida no Colégio Diocesano, no tempo do Padre Vieira. Líder estudantil conseguiu chegar à Casa Juvenal Lúcio de Sousa pela primeira vez em 1968, como o vereador mais novo daquela legislatura. No ano seguinte, Polion foi preso por não concordar com os posicionamentos do regime militar e pertencer a uma agremiação política (MDB) que incomodava os chefes políticos da região. Em 1972, transferiu-se para Brasília, onde foi trabalhar no Correio Brasiliense e na Rádio Nacional, retornando para Patos dois anos depois. Polion foi ainda vereador da “Morada do Sol” por três legislatura (1976, 82 e 88).
Aprovado no concurso do BNH foi residir em Natal (RN). Com a dissolução do Banco do Nordeste, tendo sido absorvido pela Caixa Econômica, Polion veio morar em João Pessoa, chegando a ser presidente do Sindicato dos Bancários da capital do estado. Era Bacharel em Economia pela Fundação Francisco Mascarenhas e advogado pelo IPÊ, atual Unipê, de João Pessoa. Já aposentado retornou à “terrinha” de origem para ficar mais perto dos pais e irmãos, trazendo as filhas Yanna e Karoline. Polion voltou definitivamente para João Pessoa em 2004, onde chegou a falecer três anos depois. Foi sepultado em Patos, a terra que ele amava muito.