Gloriosa 26 de Julho: 90 anos festejando a vida
22 de março de 2022Gloriosa 26 de Julho: 90 anos festejando a vida por José Romildo de Sousa
Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 28/05/2021 .
A Banda de Música é indiscutivelmente um dos instrumentos culturais mais importantes do patrimônio artístico de uma cidade. É a sua memória viva: sempre se fazendo presente nos grandes acontecimentos públicos; seja animando o pavilhão da festa da padroeira ou acompanhando o féretro de uma de suas personalidades ilustres. Seus acordes ultrapassam o espaço e o tempo e ganham lugar na imaginação fértil de cada pessoa, que não os deixam de associar a fatos que se tornaram inesquecíveis, principalmente, pela sua importância histórica e sentimental.
É como diz o competentíssimo musicólogo paraibano Domingos de Azevedo Ribeiro ao se referir a esta entidade: “É, realmente, o Conservatório de cada cidade. De constituição das mais democráticas, tanto no passado como no presente, seu objetivo é proporcionar música para o agrado do povo”.
Na segunda metade da década de 20, chegava à Patos, proveniente de Campina Grande, o professor e músico Anézio Leão. Aqui fundou o Instituto São José que ficava localizado na esquina da rua Peregrino Filho, onde funcionou a Casa de Saúde de Dr. Estácio, genitor do campeão de Fórmula I, Nelson Piquet. Juntamente com o Instituto, precursor do curso de admissão na cidade, Anézio também criou a sua banda, que logo ficou sendo conhecida pela população local pelo nome de Banda do Instituto São José. O contramestre dessa banda era Luiz Beijamim e dela participavam, entre outros músicos: Peri, Zizi, Hermes Brandão, Mané Cauinha, Cícero Lopes, José Aragão, Simão Pereira, Tinin e Noé Trajano.
Como o custo financeiro desse empreendimento era muito alto para o Instituto continuar bancando e, sendo procurado pelo Prefeito Adelgício Olinto de Mello e Silva após a morte do Presidente João Pessoa, ocorrida na Confeitaria Glória, no Recife, em 26 de julho de 1930, que desejava homenagear o ilustre paraibano assassinado, Anézio concordou em mudar o nome da Banda do Instituto para Filarmônica Municipal 26 de Julho, continuar como maestro e a edilidade patoense, a partir daquele momento, assumir em definitivo as despesas com o fardamento e com a aquisição de instrumentos.
Quanto ao projeto destinando a subvenção para o pagamento dos componentes da banda foi aprovado no ano de 1947, dentro do governo do Prefeito Milton Gomes Vieira. Entretanto, a oficialização da Filarmônica 26 de Julho se deu somente em 2010, através da Lei nº 3.858, sancionada pelo prefeito Nabor Wanderley. A Filarmônica Municipal 26 de Julho durante a sua existência bateu os quatro cantos da cidade de Patos em busca de um local mais apropriado para a realização dos seus ensaios. E, somente na gestão do prefeito Ivânio Ramalho foi agraciada com a sua sede própria. Para que isto acontecesse, um arrojado projeto foi elaborado, onde até o famoso arquiteto Régis Cavalcante foi consultado.
Sobre a supervisão do Engenheiro Antônio Eliton, que na época era Secretário de Obras, o antigo prédio onde funcionou por 40 anos (1913-1953) o Açougue Público de Patos, o da praça João Pessoa, foi remodelado e entregue solenemente a banda no seu 62º aniversário. Naquela oportunidade, por solicitação do prefeito Ivânio, foi montado no prédio restaurado, na sala que leva o nome do maestro Pedro Morais, uma permanente exposição fotográfica, onde toda a evolução histórica das bandas patoenses, foram ali retratadas, desde a do maestro Juca Trindade, primeira de que se tem notícia, até a luminosa trajetória da Filarmônica Municipal 26 de julho.
Nas suas andanças pela cidade, a banda teve como sua primeira sede na casa que ficava em frente à Igreja Evangélica Congregacional, na Avenida Pedro Firmino, onde se hospedava a Coluna Costa. Dalí saiu para o prédio onde funcionou a Casa de Saúde de Dr. Estácio. A residência do Senhor Sebastião Soares, em frente à Rua Espinharas, foi também por um bom tempo sede da banda.
Em seguida, foi transferida para a Bossuet Wanderley, pertinho de onde morou o Dr. Edmilson Lúcio; seguiu depois para a Usina da Luz, que ficava na Rua Antenor Navarro, por traz do Hotel JK. A banda esteve também num salão da Rodão Meira, perto do Baicora, no prédio onde funcionou na Miguel Sátyro a Prefeitura Municipal; voltou para a Usina da Luz e depois foi para a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Patos (Aciap). Instalou-se também um tempo na parte de cima do bar de Pedro Moisés, estabelecimento da Horácio Nóbrega; permaneceu por um longo período na casa de Joaquim do Padre, bem em frente ao local onde existiu o Cemitério Eclesiástico, na praça Pelota. Saiu dalí para o antigo Tiro de Guerra 07-152, o da Floriano Peixoto.
No ano de 2006, foi inaugurado em 27 de novembro, no espaço onde a banda estava instalada desde 1993, o Centro Cultural Amaury de Carvalho e, a partir deste momento, a 26 de Julho foi deslocada para o antigo prédio do Mercado Público do bairro do Belo Horizonte, que fica entre as Ruas Panati, Assis Chateaubriand e Antônio Urquiza, sendo o local oficializado como sede definitiva pelo prefeito Nabor Wanderley, em 26 de novembro de 2009. Foi sempre coroada com grande sucesso a participação da Filarmônica 26 de Julho em todos os momentos que esteve se apresentando dentro e fora do município de Patos.
Haja vista a Festa de Piancó no ano de 1931, quando foi classificada em 1º Lugar, num embate sem precedentes na história daquele município. Outro momento importantíssimo foi a sua participação na chegada de Argemiro de Figueiredo em Campina Grande em 1947, quando mais uma vez, concorrendo com 27 outras bandas, sagrou-se em 2º lugar, perdendo apenas para a Banda da Polícia Militar. “A Furiosa”, como gosta de intitulá-la o maestro Valdemir Saraiva, também esteve presente no Congresso Eucarístico realizado no ano de 1945, em Teixeira, na posse de Dom Zacarias Rolim. Outra marcante participação foi na grande homenagem prestada pelo povo de Arapiraca ao patoense Gabi, proprietário da indústria de Fumo Dubom. A 26 de Julho foi sempre a grande responsável pela animação e brilhantismo das retretas na Praça Getúlio Vargas e em frente ao Cine Eldorado da Pedro Firmino.
Suas alvoradas nas datas comemorativas e durante a Festa de Setembro enchiam sempre de contagiante harmonia as principais avenidas da cidade, principalmente quando dobrados da estirpe de General Manoel Rabelo e Saudade da Minha Terra eram executados pelos seus componentes.
Ainda neste sentido, vários foram os seus maestros que se destacaram nas composições de dobrados famosos, a exemplo de Pedro Morais, que compôs prefeito José Cavalcanti, Braz Morais e deputado Edivaldo Mota; Antônio Amanso, autor do dobrado Afonso Bacalhau e prefeito Edmilson Mota e o maestro Saraiva, com Ivânio Ramalho e Marcos Dias Novo.
Atualmente, Marklean de Sousa Pereira assume a função de maestro da Filarmônica, tendo sido escolhido pelo voto direto dos músicos da entidade em 2019, para ser seu regente. Assim caminha a banda de música de Patos que neste ano de 2021, precisamente no próximo dia 26 de julho, estará aniversariando, completando 90 anos de intensa atividade, fazendo-se sempre presente nos grandes eventos sociais, políticos, culturais e religiosos da cidade, tornando-se assim, uma reconhecida entidade musical, merecedora da designação de importante patrimônio histórico-cultural da Morada do Sol.