Biblioteca Armorial do Pinharas

22 de março de 2022 Off Por funes

Biblioteca Armorial do Pinharas por José Mota Victor

 

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data  de 23/04/2021 .

 

O famoso e enigmático entomologista Brenhim Delgado de Castilho, do romance armorial A Influência dos Raios Solares na Menstruação da Borboleta, foi quem apelidou o lugar de “A Vila do Meio do Mundo”. Ele tinha acompanhado a comitiva do presidente Silva Nunes ao interior da província e resolveu se estabelecer naquele inóspito lugar para iniciar os seus escatológicos estudos sobre a borboleta preta com uma risca amarela na asa esquerda. Na verdade, o burgo tinha o encantado nome de Imperial Vila do Pinharas e ficava no centro geográfico da província, na cintura do mapa, como bem dizia os filhos da terra.

 A Biblioteca Armorial do Pinharas teve início nesse período, meados do século 19. Hoje, a biblioteca está situada no sítio histórico de Patos, na praça onde nasceu a cidade e que já teve o nome de praça do Comércio, João Pessoa e atualmente Edivaldo Mota. Funciona num antigo sobrado construído na década de 1930 e que ainda continua impávido em meio a modernidade do século 21, raridade para um país que não tem a tradição de preservar o seu patrimônio histórico e arquitetônico.

A biblioteca é especializada em livros paraibanos e tem um acervo invejável de obras raras dos nossos melhores escritores. A sessão “Escritor Patoense” tem aproximadamente 200 livros. Para citar apenas um expoente da nossa literatura, a biblioteca tem as obras completas do Louco do Jabre, grande jornalista e crítico literário que se dizia filho de uma pedra e de um raio de sol. Allyrio fez traduções, diretamente do russo, a quatro mãos, no início da década de 1930, dos escritores Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói e Leonid Andreief. Mais tarde, junto com Georges Selzoff, traduziu o livro Porque Morremos, do letão Alexandre Lipschütz. Toda obra do grande escritor patoense está esgotada, mas será publicada pela Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano a partir do ano de 2025, quando entrará em domínio público.

 Paulatinamente serão publicados os seguintes livros: Sol Criminoso, Bolsos Vazios, Os Brutos, Ranger de Dentes, As Bases do Separatismo e Carneiros Cinzentos. Em outra oportunidade poderemos falar das obras de outros grandes escritores pinharenses como João Rodrigues Coriolano de Medeiros, Nelson Lustosa Cabral, Alfredo Lustosa Cabral, Octácilio de Queiroz, Ernani Sátyro e Sousa, Tarcísio Meira César e tantos outros que escalaram os mágicos e fantásticos Inselbergs do Pinharas e foram iluminados pelo incandescente sol da Vila do Meio do Mundo, não é à toa que a cidade é conhecida como a Morada do Sol e tem a guarda pontifícia do armorial Pico do Jabre. Quem sabe, em outro artigo, falaremos sobre a contribuição de Caleb Balaque, popularmente conhecido como professor Dagesh, na construção da famosa Biblioteca Armorial do Pinharas. Balaque é aquele personagem abstruso do romance Ducks City – Uma Cidade Encantada Não Muito Longe Daqui.

Os livros do professor foram esquecidos no quarto do hotel Butijinha quando ele fugiu as presas para não ser preso pelos agentes da ditadura militar do Brasil. O proprietário do hotel, anos mais tarde, entregou a caixa a BAP que continha entre outros, os seguintes livros: História do Brasil (Methodo Confuso), de Mendes Fradique, A Cidade que o Diabo Esqueceu, de Orígenes Lessa, El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra, Práctica de Exorcistas er Ministros de la Iglesia, por el padre Benito Remigio Noydens, Manual de Inquisidores Para Uso de Las Inquisiciones de España y Portugal, de Nicolao Eymérico e Erótika Biblion – La Pornografia em La Biblia y em la antigüedad, de Mirabeau. Agora vamos dar um salto para outra cidade encantada e patrimônio Histórico da humanidade, o Brejo de Areia.

A Biblioteca Armorial do Pinharas tem o maior acervo privado do grande escritor José Américo de Almeida, aquele que na velhice escolheu caminhar nas areias do Cabo Branco, naquele peculiar mar de Ernest Hemingway, não sei quais as razões que me levaram associar o paraibano ao livro O Velho e o Mar, talvez uma fotografia do Homem de Areia, de outro fabuloso e armorial paraibano, Vladimir Carvalho. O Acervo ou Coleção José Américo de Almeida tem todas as primeiras edições do escritor, inclusive todas as edições de A Paraíba e Seus Problemas. A Bagaceira tem um destaque especial com inúmeras edições especiais: a primeira edição publicada no ano de 1928, pela Imprensa Official da Parahyba do Norte, é raríssima. A Bagaceira é um clássico da literatura nacional. As outras edições saíram no ano de 1928 através da livraria Castilho. A quinta edição foi publicada por Adersen Editores no ano de 1933. A partir da sexta edição a Livraria José Olympio Editora adquiriu os direitos autorais.

 Um destaque da coleção José Américo são as 25 edições da revista O Cruzeiro do ano de 1957 do período em que o escritor publicava Sem me Rir, Sem Chorar, suas crônicas semanais. No ano de 2022, a Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano vai publicar o livro A Presença de José Américo na Cidade de Patos, com fotos, discursos e a relação de todos os livros do escritor que pertencem a Biblioteca Armorial do Pinharas, um acervo primoroso com mais de 200 peças.